“A promoção do território é um desígnio dos municípios e levamos isso muito a sério”

Vila Flor, além de ser o concelho com uma das maiores densidades populacionais do distrito, rivalizamos com Bragança e Mirandela, é o segundo exportador do distrito. Todos perderam população, mas se verificarmos os números de 2021 a 2025, em termos de eleitores, Vila Flor foi o terceiro que perdeu menos, a seguir de Bragança e Mirandela. Portanto, isso indica alguma coisa, desde logo que Vila Flor tem uma posição geográfica privilegiada, mas também tem desenvolvido políticas capazes de fixar e de trazer população nova, porque há necessidade de mão de obra, nomeadamente na agricultura, nas obras públicas. E há outras empresas que precisam de pessoas novas para atingir os seus objetivos. Vila Flor tem sido capaz de fixar, de resistir.
Sendo assim, o que tem sido feito e que ações podem ter mais importância para atrair e fixar pessoas?Aqui eu vou responder que é um conjunto de ações, é tudo. Temos de, às vezes, nos autoquestionarmos sobre o que é que nos faz viver em algum lugar. Aqui, em Vila Flor, estamos com o emprego em pleno e somos o concelho com menos rendimentos sociais de inserção. Quase não temos desemprego, por exemplo. Ao município cabe, acima de tudo, fazer deste um lugar bom para se viver, onde tenhamos acesso a cultura, a desporto, a educação, a habitação.
Com uma população envelhecida, à semelhança de muitos outros municípios, um dos projetos que tem sido implementado em Vila Flor é a Unidade Orgânica para o Envelhecimento Ativo. Que impacto tem tido?“O investimento nas pessoas é o mais importante, porque os equipamentos são para as pessoas, não para um protagonismo político”
Criámos a unidade orgânica, com um corpo técnico que está a trabalhar de uma forma dinâmica. Realizámos o primeiro encontro intergeracional de jogos tradicionais de Vila Flor, onde foi possível juntar os nossos mais velhos com os nossos mais novos. Temos ainda o CLDS 5G, o radar social dentro dessa unidade, tudo feito de uma forma estrategicamente coordenada. Temos vigilância de enfermagem, ATL Sénior. Vamos fazer investimentos na área da saúde mental e do acompanhamento. Acima de tudo, o que temos feito é reconectar as comunidades, ligar as pessoas e desenvolver atividades de forma permanente. A nossa unidade orgânica de envelhecimento trabalha todos os dias. Tenho a certeza que esse é o melhor e o maior investimento que podemos fazer para o futuro de Vila Flor, porque a forma como tratamos aqueles que nos criaram diz muito sobre a forma como seremos tratados no futuro. Quisemos fazer uma afirmação política e, com coragem e determinação, sermos inovadores neste campo social, por acharmos que é, sem dúvida, uma área onde temos o maior investimento.
No caso dos eventos, como os certames que foram reconfigurados, considera que a aposta foi bem-sucedida?Sem dúvida. Não tenho dúvidas que a promoção do território é um desígnio dos municípios e nós levamos isso muito a sério. Promoção não só do nome Vila Flor, como dos seus produtos, do artesanato, associações, clubes. O nome Vila Flor projeta-se, hoje em dia, a nível nacional e internacional, não só pelo azeite, mas também pela qualidade de outros produtos. É uma aposta que está a ser ganha e um investimento que vai dando frutos, não de forma imediata, mas em cada evento damos destaque e dignidade aos nossos produtores e aos nossos artesãos. É a Vila F’Liz Natal, as Amendoeiras em Flor, a ExpoVila, que reúne quase 200 expositores, e as festas da Vila. Anteriormente, nem sequer existiam todos, não havia essa preocupação, esse destaque na promoção dos produtos e do nome Vila Flor.
Quanto a obras. A Barragem de Freixiel é uma das mais importantes no concelho. Em que fase se encontra?O Regadio de Freixiel é o maior investimento alguma vez feito em Vila Flor. Quando assumimos estas funções tinha um investimento previsto de nove milhões de euros e hoje está acima dos 18 milhões. O projeto está dividido em dois lotes. Um deles diz respeito à construção da barragem, que está adjudicado e excede os 10 milhões de euros. O outro é a rede de rega, que já está em fase final de execução. É um projeto como nunca tivemos, com essa grandeza de escala financeira. A par disso, temos um gabinete de agricultura e um dos técnicos dedica-se a este projeto, para fazer uma planificação do objetivo desse investimento. Não se fazem investimentos para desenvolvimento económico sem ter um objetivo, é preciso ter técnicos habilitados que acompanhem não só o investimento e a execução da obra em si, mas também o futuro, ou seja, que comecem a desenvolver a estratégia no terreno de como os agricultores terão que reagir e fazer os seus próprios investimentos para tirar o máximo proveito deste investimento público. É a contribuição maior que podemos dar a este projeto, torná-lo realmente rentável e florescer em Freixiel e Vieiro. O que tende a acontecer é que os investimentos no regadio são feitos, mas demora a arrancar o investimento agrícola em si. A nossa intenção é que isto não aconteça.
Exatamente, o objetivo principal é que, mais cedo do que tarde, os agricultores que vão ser beneficiados por este regadio vejam a oportunidade de investimento, diversificando as suas culturas, abrindo portas a culturas que, sem acesso a regadio, não são rentáveis, e possam voltar a florescer e dar um rendimento acrescido.
E há perspetivas sobre a sua conclusão?Sim, final de 2026. A barragem de Freixiel tem várias etapas, mas o início da construção propriamente dita está para muito breve. Estamos a aguardar a apresentação de elementos por parte da empresa que venceu o concurso para fazer o contrato e estamos mesmo numa fase inicial.
Relativamente ao alteamento da barragem da Burga, tem havido avanços?É um investimento muito importante, junto, principalmente, de cerca de 200 hectares na Vilariça, que não têm o acesso ao regadio que desejávamos, e que são determinantes para continuarmos na senda de desenvolvimento. Já conseguimos o enquadramento da lei quadro da água para este investimento, o alteamento da Burga, e estamos em fase de lançar o procedimento para o projeto de execução da barragem. Já temos o financiamento garantido através do BEI (Banco Europeu de Investimento), a que o Estado português recorre. Este investimento tinha caído com o último governo do PS e foi recuperado pelo ministro da Agricultura.
A Vilariça é um motor de desenvolvimento de Vila Flor. É o maior produtor ibérico de pêssego, sendo que o figo e a cereja também são muito importantes.
Em termos de custo-benefício, é um investimento previsto de 9,5 milhões de euros, que faz muito sentido e que já tem pernas para andar.
Mas há outros investimentos que já estão a ser feitos…Sim. O investimento na zona de acolhimento empresarial está concluído, faz parte dos que iniciámos neste mandato e que concluímos com sucesso. Outro é o abastecimento de água, que também foi um investimento muito importante, principalmente na qualidade da água, mas também na quantidade. Hoje, em Vila Flor, 100% da água que é fornecida aos munícipes tem a mesma origem e a mesma certificação de qualidade. O que não acontecia até 2021. Temos todas as nossas aldeias fornecidas pela mesma origem de água e uma rede integrada que é única no distrito de Bragança e erradicámos os furos hertzianos.
A renovação da escola-sede do nosso agrupamento também foi uma obra muito importante, com a colocação de um elevador para combater problemas de mobilidade reduzida. Destaco também a nossa Base de Apoio Logístico (BAL), para dar um equipamento a Vila Flor necessário no campo da proteção civil, da formação e de estacionamento de forças para, nomeadamente, o combate a fogos florestais. São projetos que conseguimos realizar durante os primeiros dois anos de mandato. Neste momento, temos assegurados investimentos que estão agora a começar a ter os avisos no 2030. Aqui, destaco a requalificação de espaços e equipamentos, para os tornar mais atualizados e úteis à população, como é o caso do Mercado Municipal, que já tem a candidatura aprovada, com um investimento total de cerca de dois milhões de euros. Temos o Centro Cultural de Vila Flor, um espaço que é bastante dinamizado pelas nossas associações e onde se celebram muitos momentos culturais, estando previsto um investimento que ultrapassa, ligeiramente, um milhão de euros. Também incluímos, no 2030, o Estádio Municipal, com a sua requalificação, através da substituição do relvado e da iluminação, sendo um projeto que ultrapassa os 350 mil euros. Temos uma preocupação, novamente na proteção civil, há um projeto para uma unidade local de formação para incêndios urbanos e outros. O investimento aqui ultrapassa os 700 mil euros. E temos também a requalificação do nosso Museu Municipal, que é um ex-libris do concelho, na vertente de eficiência energética e de acessibilidades. Mantendo a sua traça e a sua característica, vamos trazê-lo para os dias de hoje. Um investimento que temos, e que não chega a dois milhões de euros, é dedicado ao Ecopark. Trata-se de um projeto com uma vertente marcadamente ambiental e pedagógica para os vila-florenses, com um centro de alterações climáticas e também a requalificação do parque de campismo, trazendo outras vertentes de acomodação, nomeadamente bungalows e casas na árvore.
No abastecimento de águas, vamos fazer um outro investimento na telemetria, ou seja, ganhar eficiência, para que haja uma redução de perdas e fugas de água. É um projeto na ordem de um milhão de euros, contemplado e aprovado no Norte 2030. Acho que são anos de trabalho na execução destes projetos.
Queria destacar o total de investimentos previsto, dentro do 2030 Interior. Todos os projetos que já temos em carteira, ultrapassam os 12 milhões de euros, para serem concluídos até ao final de 2029.01

O nosso principal ativo é o património natural. Hoje em dia, o turista que almejamos alcançar é um turista exigente, que precisa de ter o que fazer, portanto, o que visitar e o que percorrer, como percursos pedestres. A gastronomia é um dos incentivos também para permanecer, com destaque para o vinho, o azeite, os enchidos, os queijos, o mel, a amêndoa. E o que levar, como o nosso artesanato ou os nossos produtos. A nossa estratégia é, acima de tudo, consolidar esse investimento, tanto a nível da paisagem natural como também dos produtos. Para complementar temos atrativos no campo religioso, igrejas com bastante história, o santuário diocesano de Nossa Senhora da Assunção. Temos também o nosso património, não só arquitetónico como cultural, e que foi requalificado, como o Arco de D. Dinis, o espaço envolvente da Forca de Freixiel, que é única na Península Ibérica e também temos a Fonte Romana. Em relação ao programa turismo no interior, importa referir que temos uma candidatura aprovada, e que irá iniciar ainda este verão. Adquirimos, na Serra de Vila Flor, 12 hectares de terreno, desde as Capelinhas até à malha urbana, que vão ser renaturalizados, ter circuitos pedestres e um centro de visitação, onde vai ser possível colocar os nossos produtos endógenos. É uma intervenção com muita importância a nível do ambiente e da preservação do património natural, mas é também uma devolução da serra aos vila-florenses, para que possam usufruir da sua serra e que ela não se torne uma ameaça.
Para terminar, e uma vez que já confirmou que se vai recandidatar, quais os objetivos e visão para os próximos anos?Falei no investimento nas pessoas, que é o mais importante, porque os equipamentos são para as pessoas, não para um protagonismo político. Mas gostaria de referir temas que me preocupam e que gostaria de resolver, se for merecedor da renovada confiança, nomeadamente ao nível da mobilidade e também da educação, porque são fatores importantíssimos para reafirmar a capacidade de fixação de população. Na mobilidade, a CIM de Terras Trás-os-Montes está com um colete de forças devido a termos um Estado centralizador, nomeadamente pelo IMT. Temos que verificar as condições de número de passageiros, de frequência de serviço, que não se coaduna com a verdadeira necessidade da população. Portanto, de uma forma mais integrada e solidária com os restantes concelhos de Trás-os-Montes, lutamos por maior autonomia, porque, possivelmente, com menos dotação orçamental, que ascende a quase cinco milhões de euros em transportes, poderiam os municípios prestar um serviço de maior qualidade e que atendesse às reais necessidades da população, com um serviço à chamada, um serviço coordenado por juntas, coordenado com centros de saúde. E na educação a mesma coisa. Temos que respeitar números mínimos, não podemos ter opções diversificadas para os nossos jovens, porque não podemos ter uma educação diferente e adequada ao nosso território. Continuamos a ter que responder a um Estado central. Temos as turmas partilhadas, mas há alunos de Vila Flor que frequentam as disciplinas de opção noutro concelho. Chegámos aí, mas não conseguimos ir mais longe. A educação preocupa-me, porque é um fator essencial para quem escolhe Vila Flor para viver.
avozdetrasosmontes